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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DORME QUE EU VELO

AMIGO FIEL



Em uma de minhas viagens de férias estive em minha terra natal, São João Nepomuceno, em Minas Gerais.  Desta vez visitei a cidade como turista e resolvi fotografar paisagens e detalhes especiais característicos das terras de Minas.

Visitando a casa de uma prima que tem aos fundos o cemitério da cidade, resolvi olhar as sepulturas dos familiares que ali se encontravam. Para não dar uma volta muito longa, encurtamos o caminho passando por baixo de uma cerca de arame farpado, pois o cemitério não tinha muros naquele local.

Meu primo foi comigo mostrando algumas sepulturas e contando histórias interessantes sobre seus “moradores”.  Passamos ali alguns momentos e foi bastante interessante.

Quando estávamos voltando para casa, vi ao longe alguma coisa parecida com um cachorro e fui verificar de perto. Era mesmo um cão, ou melhor, uma estátua de um cão deitado. O sol estava muito claro naquela hora da tarde, e meus olhos doíam com a claridade da estátua branca. Quis saber o motivo da presença da estátua junto a uma sepultura muito antiga.  E foi esta a história que meu primo contou.

Havia na cidade um homem, Miguel, que tinha um cachorro que o acompanhava por todo o lugar em que ia. Mesmo quando saía a cavalo para locais mais distantes, o cachorro ia junto obrigando-o a parar para que o amigo pudesse descansar e alimentar-se. Ao dormir, o cão montava guarda aos pés de sua cama. Ao trabalhar, o cão estava junto, deitado a alguns passos de seu dono caso ele precisasse de seus serviços.

E assim foi por muitos anos. Sempre fiel,  sempre companheiro. Homem e cão inseparáveis.

Porém, Miguel adoeceu gravemente e durante todo o tempo o cão ficou ao seu lado no quarto. Depois de alguns meses, no dia 8 de maio de 1926 Miguel faleceu. Durante o velório, que naquela época era feito na casa da família, o cão ficou deitado embaixo da mesa onde estava apoiado o caixão. Era uma tristeza só.

Em cidades pequenas o cortejo fúnebre é feito a pé. O caixão é depositado num carrinho que vai sendo empurrado pelas ruas da cidade. À medida que o cortejo vai passando, as casas comerciais vão cerrando suas portas em sinal de respeito, abrindo-as só depois da passagem da procissão.

Não foi diferente naquele dia. Todos os amigos e familiares acompanhavam o caixão em uma fila silenciosa. Ao lado do carrinho ia o cão, cabisbaixo e também silencioso. Ele acompanhou toda a cerimônia de despedida sentado ao lado da sepultura. Todos voltaram para casa, mas ele permaneceu deitado ao lado de seu dono como sempre fizera.

Passados os dias, as pessoas perceberam que ele não voltava para casa. Bebia água dos vasinhos de flores e não se alimentava. A família foi avisada. Tentaram levar o cão, mas ele se recusava a ir, e mesmo quando forçado, na primeira oportunidade voltou para montar guarda ao seu dono.

Os familiares entenderam que ele não sairia mais dali e então passaram a levar-lhe água e alimento. Assim foi por mais alguns anos. Providenciaram um abrigo para ele ao lado da sepultura. E ele, fielmente guardando seu amigo. Todos o conheciam. Era motivo de muitas visitas ao túmulo de Miguel.

O cão foi envelhecendo e chegou seu dia de partir. Deitou em cima da sepultura de seu amigo e ali morreu. Os familiares, em homenagem a tão fiel amigo fizeram uma estátua do cão e a colocaram junto ao túmulo da família com o epitáfio: “DORME QUE EU VELO”.

Ninguém soube informar o nome do cão; mas isso não tem importância. O importante é o legado de fidelidade e amor incondicional demonstrados por esse animal tantas vezes injustiçado, abandonado e judiado. Podem existir amigos verdadeiros, mas nenhum capaz de tanta dedicação e amor como um cão.

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