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sexta-feira, 8 de junho de 2012

TROMBA D’ÁGUA


Morávamos em Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro. Era início de ano, 23 de janeiro de 1967, época em que acontecem grandes tempestades.

Naquela noite de segunda-feira, estávamos todos dormindo, passava um pouco das 23h. Repentinamente, acordamos com uma tempestade nunca vista, com grandes estrondos e muita chuva. Estávamos todos assustados. As luzes se apagaram e fomos todos para a sala – meu pai, minha mãe, minha irmã, meu irmão e eu. Ficamos conversando e ouvindo as histórias de meu pai e minha mãe que tentavam nos acalmar.

A tempestade continuou por umas três horas. As janelas de nossa casa tremiam e faziam barulho como se fossem quebrar. Sentíamos o chão e o ar vibrando com uma energia estranha.

Quando tudo se acalmou voltamos a dormir. Na manhã seguinte ficamos sabendo que caíra uma grande chuva, que meus pais identificaram como uma “tromba d’água”, na Serra das Araras, com muitos deslizamentos de terra e pedra. De nossa casa até a Serra é uma distância de aproximadamente 60 Km. Para sentirmos os tremores dos deslizamentos foi de fato uma coisa fantástica.

Por  ligar Rio de Janeiro a São Paulo, essa Serra tem um grande tráfego de veículos, além de muitas famílias que moravam em suas proximidades. Os que estavam na serra naquele momento, jamais chegaram a seus destinos. Foram soterrados e a maioria permanecerá lá para sempre, pois há toneladas de terra e pedra sobre seus corpos. Formou-se uma gigantesca sepultura. Famílias inteiras se perderam, inclusive os que moravam na serra ou próximos dela.

Essa tragédia marcou o Rio de Janeiro e também a mim, e as cicatrizes permanecem visíveis em muitos pontos lembrando-nos da força da natureza e da nossa fragilidade diante dela.

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