Morávamos em Volta Redonda, interior
do Rio de Janeiro. Era início de ano, 23 de janeiro de 1967, época em que acontecem
grandes tempestades.
Naquela noite de segunda-feira,
estávamos todos dormindo, passava um pouco das 23h. Repentinamente, acordamos
com uma tempestade nunca vista, com grandes estrondos e muita chuva. Estávamos
todos assustados. As luzes se apagaram e fomos todos para a sala – meu pai,
minha mãe, minha irmã, meu irmão e eu. Ficamos conversando e ouvindo as
histórias de meu pai e minha mãe que tentavam nos acalmar.
A tempestade continuou por umas três
horas. As janelas de nossa casa tremiam e faziam barulho como se fossem
quebrar. Sentíamos o chão e o ar vibrando com uma energia estranha.
Quando tudo se acalmou voltamos a
dormir. Na manhã seguinte ficamos sabendo que caíra uma grande chuva, que meus
pais identificaram como uma “tromba d’água”, na Serra das Araras, com muitos
deslizamentos de terra e pedra. De nossa casa até a Serra é uma distância de
aproximadamente 60 Km. Para sentirmos os tremores dos deslizamentos foi de fato
uma coisa fantástica.
Por
ligar Rio de Janeiro a São Paulo, essa Serra tem um grande tráfego de
veículos, além de muitas famílias que moravam em suas proximidades. Os que
estavam na serra naquele momento, jamais chegaram a seus destinos. Foram
soterrados e a maioria permanecerá lá para sempre, pois há toneladas de terra e
pedra sobre seus corpos. Formou-se uma gigantesca sepultura. Famílias inteiras
se perderam, inclusive os que moravam na serra ou próximos dela.
Essa tragédia marcou o Rio de
Janeiro e também a mim, e as cicatrizes permanecem visíveis em muitos pontos
lembrando-nos da força da natureza e da nossa fragilidade diante dela.
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