Memórias e outras Histórias - O presente de Natal

Havíamos chegado há pouco  tempo do interior de Minas Gerais para o interior do Rio de Janeiro. Meu pai precisou procurar outros meios para o sustento da família - na época, minha mãe, eu e minha irmã mais nova.

Fomos morar numa casa de dois cômodos, muito simples, em um local também muito simples. Como crianças pequenas não tínhamos noção das dificuldades pelas quais nossos pais passavam. Éramos felizes assim. Um pequeno quintal para brincar, brinquedos caseiros e artesanais que meu pai fazia para nós, e com a ajuda de mamãe, conseguíamos nos divertir bastante.

Chegou nosso primeiro Natal longe dos familiares. A situação estava difícil. Meu pai conseguiu, trabalhando muito, comprar duas bonecas feitas de papelão prensado, vestidas com roupinhas coloridas de papel crepom. As bonecas eram até bonitinhas. Junto com os presentes, papai comprou um pedaço de melancia, que para nós era novidade. Achamos uma delícia e a saboreamos com alegria.

Brincamos bastante com nossas bonecas durante todo o dia, e ao entardecer, mamãe nos levou para o banho e as bonecas ficaram esquecidas no quintal.

Durante a noite caiu uma forte chuva.

Na manhã seguinte, ao levantarmos, nos lembramos do presente de Natal e corremos ao quintal para buscá-lo. Quando chegamos lá, as bonecas haviam dobrado de tamanho, as roupas derretidas deixaram coloridos escorridos por seu corpo inchado. Ao tocá-las, elas se desmancharam.

Choramos muito a perda de nosso presente. Porém, como toda criança, logo havíamos esquecido do episódio e já brincávamos com outras coisas.

No entanto, a história ficou gravada. Não pela perda das bonecas, mas pelo esforço de meus pais em nos fazer felizes.

                                                                           Limarchiori