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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Memórias e outras histórias - Meu Bem-Te-Vi

A casa em que eu morava era no centro de Bauru, uma cidade do interior de São Paulo. Ficava ao lado de uma praça com muitas árvores. A variedade de pássaros era grande, porém, além dos pardais que ganham sempre em número, havia também muitos bem-te-vis.
Toda manhã acordávamos com seu canto - o tradicional assovio "bem-te-vi" e um apito estridente que parecia chamar os companheiros, pois logo a seguir ouvíamos respostas de vários lugares.
Tanto os pardais quanto os bem-te-vis gostavam de descer em nosso quintal para comer a ração de nossas cadelinhas. Havia um desses bem-te-vis que nunca descia, ficava na antena de tv da casa do vizinho. Lá ele ficava cantando. Fui observando-o por vários dias e então comecei uma tentativa de contato: ele cantava e eu o imitava. Ele virava a cabecinha de um lado para o outro tentando localizar o meu som. Voltava a cantar e eu, respondia da porta da cozinha.
E assim foi por muitos dias. Ele aparecia sempre pelo meio da manhã e novamente pelo meio da tarde. E sempre repetíamos nossa conversa - ele cantava e eu respondia imitando-o. Por fim, ele começou a aproximar-se. Quando chegava me chamava com seu "grito" característico até que eu aparecesse na porta. Por uns tempos pousou no muro; depois, no encosto de uma cadeira de jardim e por fim, no encosto da cadeira da cozinha.
Nossa distância era menor que um metro. Eu conversava com ele perguntando por onde andava, o que fazia, se queria alguma coisa, se sentia saudades minhas quando eu não estava em casa. Ele virava a cabecinha de um lado para o outro como se entendesse o que eu dizia.
Ele ficou tão íntimo que além de pegar a ração no pratinho da Dolly e da Sasha, também bebia água direto da torneira da pia  - batia o enorme bico por baixo da torneira fazendo com que escorresse um pouco de água, que ele apanhava e bebia.
Um dia, uma amiga estava fazendo as unhas de meus pés na minha sala de estar. Eram 15h mais ou menos. Meu Bem-te-vi chegou na cozinha e, como sempre fazia, começou a me chamar. Eu respondia da sala que estava ocupada. Ele chamava novamente. E como não apareci, ele seguiu o som de minha voz e foi até onde eu estava. Quando deparou-se com minha amiga, assustou-se e saiu voando de volta ao quintal.
Nossa amizade continuou por muitos meses, até que ele não apareceu mais. Eu ficava no quintal imitando todo bem-te-vi que cantasse tentando achar o meu amigo. Fiquei assim por muito tempo, mas nunca o encontrei.
Sinto saudades. Nunca mais consegui estabelecer contato com nenhum outro bem-te-vi. Aquele era mesmo especial.

Limarchiori

2 comentários:

  1. Assim é a perfeição do Criador, somos criaturas Suas, somos a natureza, somos elos fraternos dessa Divina Criação!
    Beijos!

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  2. É bem verdade. Pena que nem todos temos consciência de que somos elos fraternos dessa criação,e repetidas vezes quebramos esse elo trazendo prejuízo a nós mesmos.

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Obrigada pelo comentário!